Realizada de forma híbrida, na cidade do México estavam presentes cerca de 80 participantes, conectados a quase outros mil da América Latina e do Caribe
Aconteceu entre os dias 21 a 28 de novembro a Primeira Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe. Uma Assembleia que reuniu mais de mil participantes de todo o continente, e se realizou de forma híbrida, presencial na Cidade do México, respeitando os protocolos de saúde estabelecidos para a pandemia da Covid-19; e virtual, que constituiu a grande maioria dos participantes, via plataforma digital.
Inspirada pelo lema: “Somos todos discípulos missionários em saída”, essa Assembleia buscou reavivar o espírito da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, que aconteceu em Aparecida (SP) no ano de 2007. Segundo o que disse o presidente do Conselho Episcopal Latino-americano (CELAM), dom Miguel Cabrejos, na missa de abertura, no dia 21 de novembro, essa Assembleia é histórica “porque, em vez de realizar a VI Conferência Geral dos Bispos, o Papa Francisco propôs esta Assembleia Eclesial, composta por representantes de todo o Povo de Deus”. Estamos testemunhando “a passagem de uma assembleia na qual apenas bispos participaram para uma assembleia plenamente eclesial”, insistiu o presidente do CELAM.
Outro anseio da Assembleia foi o de se preparar para o Sínodo dos Bispos sobre a Sinodalidade. Na quinta-feira, dia 25, o evento principal foi o painel intitulado “Da Assembleia Eclesial da América Latina e do Caribe rumo ao Sínodo sobre a Sinodalidade”. Na sexta-feira, dia 26, a quarta conferência foi sobre o tema “A sinodalidade do Povo de Deus: testemunhas”.
Na dinâmica da Assembleia, cada dia incluiu atividades de grupo, testemunhos, debates sobre o tema e momentos de oração.
Participação do Brasil e do Paraná
O Brasil participou com uma delegação de 314 convidados, com as vagas distribuídas conforme as vinculações eclesiais, sendo 64 bispos distribuídos, proporcionalmente, ao número de dioceses dos 19 regionais da CNBB, 63 vagas para padres e diáconos, 63 vagas para religiosos e institutos seculares, distribuídas segundo os diferentes carismas, 94 indicações para leigos, cujas vagas foram distribuídas pela Comissão Episcopal Pastoral para o Laicato da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), observando as referências nos organismos ligados ao laicato como Conselho Nacional dos Leigos do Brasil (CNLB), CEBs, e também nas Pastorais, como a Familiar e a Juvenil.
Os bispos participantes do Regional Sul 2 da CNBB foram: Dom Geremias Steinmetz, arcebispo de Londrina e Presidente da CNBB Sul 2; Dom José Antonio Peruzzo, arcebispo de Londrina e vice-presidente da CNBB Sul 2; Dom Severino Clasen, arcebispo de Maringá; e Dom Mário Spaki, bispo de Paranavaí.
Para Dom Geremias, foi excepcional ver uma Assembleia que reuniu tanta gente de todo o continente americano: “estavam presentes as mais diferentes línguas e culturas, todos nos compreendendo e respondendo a um chamado do Papa Francisco para nos reunirmos numa Assembleia Eclesial”. Segundo ele, os temas discutidos foram abrangentes e relevantes para todo o continente. “Percebi que as discussões e preocupações que temos aqui no Paraná estão presentes em todo a América Latina e no Caribe. Questões importantes como o problema da migração e o problema da fome são comuns a todos nós”, disse o arcebispo.
Dom Geremias destacou a importância dos temas refletidos: “Tivemos reflexões muito boas, sobre a missionariedade, a cultura, a educação, a Igreja, sobretudo, a ministerialidade, a participação do povo na vida da Igreja. Estou muito feliz porque estou participando em nome da CNBB”.
Outro destaque feito por Dom Geremias foi de que a Assembleia se desenvolveu ao redor do tema da sinodalidade. “Essa Assembleia também foi como uma preparação para o Sínodo dos Bispos sobre a sinodalide. Ela traz luzes para a fase diocesana do Sínodo, que já estamos vivendo aqui na Igreja do Paraná”.
O bispo de Paranavaí (PR), dom Mário Spaki, frisou que a Assembleia é uma sequência e um aprofundamento de Aparecida: “essa Assembleia não está revogando Aparecida, mas está questionando aquilo que do Documento de Aparecida ainda não foi colocado em prática em forma de vida, ao mesmo tempo em que está celebrando todos os passos dados, desde o Documento de Aparecida até os dias de hoje”.
A importância dessa Assembleia, segundo dom Mário, é a de entender a Igreja da América Latina com uma Igreja Povo de Deus. “Somos uma Igreja formada por batizados, que são de igual dignidade, uma Igreja que se coloca na escuta da sociedade, das necessidades do povo, que se coloca na acolhida, sobretudo daqueles que mais sofrem, das periferias existenciais e geográficas, assim como o Papa diz”, afirmou dom Mário.
Sobre sua participação na Assembleia, dom Mário disse: “Essa assembleia está sendo uma grande celebração, um momento de enriquecimento para todos e eu, particularmente, me sinto muito feliz, lisonjeado, por fazer parte desse momento histórico da Igreja do mundo inteiro e, particularmente, aqui da América Latina”.
Um dos padres participantes do Paraná, foi o Presidente da Comissão Regional de Presbíteros, padre Emerson Lipinski, da Diocese de São José dos Pinhais. Ele definiu o evento como um dom de Deus um sopro do Espírito Santo em nosso continente. “Eu vejo como um dom de Deus participar dessa Assembleia. O coração volta a esperançar, contemplando as inúmeras forças vivas da América Latina: leigos, religiosas, presbíteros, bispos que pensam uma Igreja sinodal, uma Igreja em saída, em direção às periferias existenciais de nosso continente. Então, o coração se enche de alegria ao contemplar a Igreja de Jesus, buscando voltar aos ideais evangélicos de nosso Senhor”, afirmou padre Emerson.
“O Papa Francisco busca reformar as estruturas da Igreja, buscando romper o clericalismo, vendo a participação efetiva das mulheres, contemplando a participação da juventude, com a participação nas decisões da Igreja, vendo o sopro do Espírito Santo conduzindo os trabalhos. Uma Igreja que ouve a todos, que escuta a todos, vemos de fato comunhão, participação e missão. Uma igreja verdadeiramente sinodal”, concluiu padre Emerson.
Mensagem do Papa Francisco
No início da Assembleia, por meio de uma mensagem, o Papa Francisco saudou os participantes e ressaltou a importância do evento para reavivar o espírito da Conferência de Aparecida, com o olhar voltado ao Sínodo de 2023, para impulsionar uma Igreja “em saída sinodal”. De modo especial, Francisco propôs duas palavras à atenção dos participantes: escutar e transbordar.
O dinamismo das assembleias eclesiais está no processo de escuta, diálogo e discernimento, escreveu o Papa. “Numa assembleia, o intercâmbio facilita ‘escutar’ a voz de Deus até escutar com Ele o clamor do povo, e escutar o povo até respirar nela a vontade a que Deus nos chama.” Portanto, o pedido de Francisco é que a Igreja procure escutar-se mutuamente e escutar os clamores dos mais pobres e esquecidos.
A segunda palavra – “transbordar” – se insere no contexto de encontrar caminhos que evitem que as diferenças se transformem em divisões e polarizações. “Neste processo, peço ao Senhor que esta Assembleia seja expressão do ‘transbordar’ do amor criativo do Espírito, que nos impulsiona a sair sem medo ao encontro dos demais, e que anima a Igreja para que, por um processo de conversão pastoral, seja cada vez mais evangelizadora e missionária.” O Pontífice conclui animando os participantes a viverem estes dias acolhendo com gratuidade e alegria este chamado a transbordar o Espírito no Povo fiel de Deus que peregrina na América Latina e no Caribe.
<Clique aqui> para ler a mensagem na íntegra
Desafios pastorais elencados pela 1ª Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe
No penúltimo dia de Assembleia Eclesial da América Latina e Caribe foram apresentados os desafios pastorais que foram refletidos durante os dias de trabalho. Os delegados construíram juntos, através das apresentações e, sobretudo, diálogos em grupo, os 12 números que podem orientar e motivar a vida pastoral do povo latino-americano.
(Tradução do texto em espanhol feito pela assessoria do site da Arquidiocese de Brasília)
1. Reconhecer e valorizar o papel dos jovens na comunidade eclesial e na sociedade como agentes de transformação.
2. Acompanhar as vítimas das injustiças sociais e eclesiais com processos de reconhecimento e reparo.
3. Promover a participação ativa das mulheres nos ministérios, instâncias de governo, discernimento e decisão eclesial.
4. Promover e defender a dignidade da vida e da pessoa humana da concepção à morte natural.
5. Aumentar a formação da sinodalidade para erradicar o clericalismo.
6. Promover a participação dos leigos em espaços de transformação culturais, políticas, sociais e eclesiais.
7. Ouvir o clamor dos pobres, excluídos e rejeitados.
8. Reformar os itinerários de treinamento dos seminários, incluindo temas como ecologia integral, povos originários, inculturação e interculturalidade e pensamento social da Igreja.
9. Renovar, à luz da Palavra de Deus e do Vaticano II, nosso conceito e experiência de Igreja Povo de Deus, em comunhão com a riqueza de sua ministerialidade, que evita o clericalismo e favorece a conversão pastoral.
10. Reafirmar e dar prioridade a uma ecologia integral em nossas comunidades, dos quatro sonhos da “Querida Amazônia”.
11. Promover um encontro pessoal com Jesus Cristo encarnado na realidade do continente.
12. Acompanhar indígenas e afrodescendentes na defesa de vida, terra e culturas.
Ao final da Assembleia, uma mensagem, intitulada “Todos somos discípulos missionários em saída”, foi dirigida ao povo da América Latina e do Caribe. Segundo o texto, a Assembleia foi “uma verdadeira experiência de sinodalidade, em escuta mútua e discernimento comunitário do que o Espírito quer dizer a sua Igreja”. <Clique aqui> para ler a mensagem.
Karina de Carvalho
Assessora de comunicação da CNBB Sul 2
Com informações do Portal CNBB e Vatican News
Foto de Destaque: Assessoria de Comunicação da 1ª Assembleia Eclesial
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