Celebração presidida pelo arcebispo dom Geremias representa mais um passo na caminhada de Antonio Marcos, Brayan e Marco Aurélio rumo ao sacerdócio

No mês em que a Igreja celebra as vocações, três de nossos seminaristas darão um passo importante em sua caminhada vocacional: Antonio Marcos Silva Andreiw (45), Brayan Lee Thompson Ávila (35) e Marco Aurélio Ravaneda Malaquias (44) serão ordenados diáconos transitórios neste sábado, 16 de agosto, na Catedral Metropolitana. Pela imposição das mãos do arcebispo dom Geremias Steinmetz, vão receber o primeiro grau do Sacramento da Ordem, sob o lema: “Servos na fé e na alegria sem reservas”. O próximo passo dos três seminaristas rumo ao sacerdócio será a ordenação presbiteral, em celebrações previstas para dezembro deste ano.

A Ordem, assim como o Sacramento do Matrimônio, é chamado de sacramento de serviço: como batizado e crismado, a pessoa assume um papel especial, pondo-se a serviço de Deus, com uma graça especial para uma missão particular na Igreja com vistas à edificação do povo de Deus, contribuindo em especial para a comunhão eclesial e para a salvação dos outros. A missão do diácono é servir a Igreja e o povo de Deus na Caridade, na Palavra e na Liturgia.

Neste último ano de formação, depois dos estudos filosóficos e teológicos, os seminaristas estão vivendo a etapa da síntese vocacional (ou pastoral), um período que antecede a ordenação e é vivenciado fora do seminário, em uma comunidade, oferecendo a eles uma introdução à vida pastoral. Antonio Marcos está fazendo o ano de síntese na Paróquia Nossa Senhora da Paz, de Ibiporã; Brayan Lee na Paróquia Jesus Cristo Libertador, no Decanato Norte; e Marco Aurélio na Paróquia Sant’Ana, Decanato Centro. A seguir contamos um pouco da caminhada vocacional dos três seminaristas.

“Sempre vale a pena”

Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas, Antonio Marcos, 45, iniciou o processo formativo para o sacerdócio em 2020, aos 40 anos de idade. Antes disso, em 1994, quando era paroquiano da Paróquia Cristo Libertador, no Decanato Norte, já tivera uma experiência no Seminário, ficou um ano e meio, mas por conta da idade resolveu sair. De volta à casa da família, estudou, trabalhou e não pensava mais em ser padre. Até que a experiência da oração do Santo Terço avivou em seu coração a vocação.

Em 2015, participando da Paróquia Nossa Senhora de Nazaré, Decanato Norte, Marcos adquiriu o hábito de rezar o Terço todo dia e com ele o chamado e a dúvida: “será que eu devo voltar?” Depois disso, entrou num processo de discernimento, procurou os encontros vocacionais e sua experiência de vida o ajudou a ter certeza do que queria. Ao encontrar sua vocação, Marcos está no caminho que o deixa feliz. “Antes eu fui para o seminário, mas era muito mais novo, achei que não era minha vocação. Depois com o tempo e a experiência de vida eu vi que a minha vocação é ser padre mesmo, é o que eu quero e tenho certeza disso”, destaca. Por conta da idade e por já ter feito uma faculdade, depois da formação no Seminário Propedêutico, Marcos foi direto para o Seminário Teológico, não passou pelo Seminário Filosófico.

Para os que estão na dúvida com a própria vocação, Marcos assegura que vale a pena fazer uma experiência no seminário, para o caso dos homens, ou no convento para o caso das mulheres. “Para ter essa experiência, para não ficar com essa dúvida no coração: ‘será que eu deveria ter ido?’ Se for a vocação da pessoa, ela vai continuar, se não for, a pessoa vai ficar tranquila e saber que pelo menos tentou”, recomenda Marcos. “Sempre vale a pena. Eu digo que tem dificuldades, mas sempre vale a pena.”

“Juntos nós crescemos como pessoa”

Brayan, 35, é o caçula da turma. Historiador e mestre em História pela UEL, entrou para o seminário prestes a completar 26 anos de idade, em 2016, depois de fazer os encontros vocacionais durante todo o ano de 2015. Porém, para falar de sua vocação, é preciso voltar um pouco no tempo. Brayan é um “católico recente”, foi batizado há pouco mais de 10 anos, aos 23 anos de idade. Quando criança, nunca se viu como sacerdote, nem como cristão, na verdade, apesar de a avó leva-lo à Missa.

No final da faculdade de História, Brayan conta que estava um pouco perdido, sem se sentir completo e feliz. Aliado a isso, a família passava por uma complicada situação financeira e recebeu ajuda da Pastoral dos Vicentinos da Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, Decanato Oeste. Aquilo despertou nele uma curiosidade, que o fez procurar a Igreja. “Aí fui numa Missa, fui em outra, fui em outra” e decidiu pedir o batismo. Após fazer a catequese de adultos, foi batizado na Vigília Pascal de 2013, na Paróquia Nossa Senhora da Boa Viagem, e recebeu os sacramentos da Iniciação à Vida Cristã.

Foi uma somatória de coisas que o atraiu: a riqueza da Liturgia; a figura de Jesus e sua mensagem; e a dimensão comunitária. “A mensagem [de Jesus], uma palavra de esperança, uma palavra de vida, de transformação, dá uma proposta que vai além só do que estamos aqui, que existe um sentido maior além do material, além do que só a questão cientifica, só a questão lógica. Isso me apaixonou, disse: ‘caramba, existe algo que me explica, que me ajuda, que me completa de uma forma’”. Naquele ano, Brayan também foi para a Jornada Mundial no Rio de Janeiro e ficou impressionado com a figura do Papa Francisco e dos jovens.

Após receber os sacramentos, Brayan se envolveu na comunidade e começou a participar de um grupo de jovens na Comunidade Nossa Senhora de Fátima, no Jardim Sabará, onde ficou até entrar para o Seminário. Porém, apesar de alguns indícios e alguns convites, o chamado da vocação ainda não tinha despertado.

Brayan estava iniciando o Mestrado em História na UEL e só voltou a pensar na vocação na reta final do curso, quando intensificou as orações nesse sentido. A experiência dos padres com quem convivia, em especial do pároco padre Luiz Laudino, a dimensão comunitária e a vontade de retribuir o que a Igreja fizera por ele foram a motivação vocacional. “Eu enfatizo a dimensão da oração, quando a pessoa está com dúvida, o caminho certo é a orientação espiritual, mas também a oração, buscar aquilo que Deus quer.”

A dimensão comunitária foi algo que sempre o atraiu na Igreja. No seminário, teve dificuldade em se adaptar a conviver com muitas pessoas diferentes, com dinâmicas diferentes, com formas de pensar diferentes, mas essa foi também uma das maiores riquezas. “O que eu destaco muito é que juntos nós crescemos como pessoas. E isso foi um grande tesouro que eu ganhei nesses dez anos. É um tesouro que eu levo para a minha vida inteira e foi um período muito bom”, conta.

Brayan vê a ordenação como a conclusão de um voto de confiança que a diocese depositou neles e quer retribuir através do serviço. “Por meio da nossa fé, por meio da nossa alegria, servir a Igreja e servir as pessoas de uma forma concreta. É o momento de retribuir toda a oração e tudo aquilo que o povo fez”, conclui o seminarista.

“Servir como nós somos”

Agrônomo de profissão, Marcos Aurélio, 44, conta que Deus sempre lhe deu sinais do seu chamado. Ele entrou para o seminário aos 33 anos de idade, mas sempre foi envolvido nos grupos de jovens e de cursilho em sua diocese de origem, Apucarana. Veio para Londrina para cursar a faculdade de Agronomia e se envolveu na Paróquia São Vicente de Paulo, Decanato Centro. “Eu já sentia [o chamado], mas eu fui deixando acontecer, vivi esse tempo da faculdade, [depois] como profissional, experimentando as coisas que Deus me concedeu. Mas com 33 anos eu dei a resposta definitiva”, relembra o seminarista.

Marco Aurélio fez os encontros vocacionais e entrou para o Seminário de Apucarana, onde fez toda etapa da Filosofia. Na transição para a etapa da Teologia, pediu autorização para se transferir para a Arquidiocese de Londrina, onde continuou sua formação e onde vai exercer seu ministério. “Fui muito bem acolhido pelos meus irmãos, pela arquidiocese toda, nós estabelecemos um elo de amizade muito grande. E olha, sou muito grato por estar aqui, feliz e agora quero corresponder ao que foi investido em mim na formação, esta confiança em me acolher na arquidiocese para poder construir a nossa história, a história da Igreja”.

Marco Aurélio destaca o papel da providência de Deus em toda sua caminhada. De família humilde, conta que “tudo foi sempre conquistado com muita luta.” Quando entrou para a faculdade, estudava à noite, trabalhava de dia e aos sábados fazia os estágios. Durante os cinco anos da faculdade, o trabalho custeou metade do valor da mensalidade do curso.

Depois de formado, Marco Aurélio começou a trabalhar em uma grande cooperativa. Aos poucos foi criando seu espaço e já estava estabilizado profissionalmente quando veio o sim para a vocação. Por isso, conta que a família demorou para entender sua opção. “Mas com muita oração e com muita paciência, e deixando as coisas acontecerem com a vontade de Deus, foi tudo caminhando para aceitação, para a acolhida, e hoje é motivo de alegria, com a graça de Deus”.

Para o futuro: “A palavra servir é o modelo que a gente tem que ter como referência. O brilho e centro do olhar, Jesus Cristo, Aquele que veio para servir. Servir como nós somos, com as nossas fraquezas, com os nossos limites e misérias, mas servir, porque quando colocamos aquilo que temos tudo se transforma, porque é uma interação de uma comunhão com Deus”, conclui Marco Aurélio.

Juliana Mastelini Moyses
Arquidiocese de Londrina

Fotos: Terumi Sakai e Tiago Queiroz