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Capítulo 1 de 24

1Muitos empreenderam compor uma história dos aconteci­mentos que se realizaram entre nós,

2como no-los transmitiram aqueles que foram desde o princípio testemunhas oculares e que se tornaram ministros da palavra.

3Também a mim me pareceu bem, depois de haver diligentemente investigado tudo desde o princípio, escrevê-los para ti segundo a ordem, excelentíssimo Teófilo,*

4para que conheças a solidez daqueles ensinamentos que tens recebido.

5Nos tempos de Herodes, rei da Judeia, houve um sacerdote por nome Zacarias, da classe de Abias; sua mulher, descendente de Aarão, chamava-se Isabel.

6Ambos eram justos diante de Deus e observavam irrepreensivelmente todos os mandamentos e preceitos do Senhor.

7Mas não tinham filhos, porque Isabel era estéril e ambos de idade avançada.

8Ora, exercendo Zacarias diante de Deus as funções de sacerdote, na ordem da sua classe,

9coube-lhe por sorte, segundo o costume em uso entre os sacerdotes, entrar no santuário do Senhor e aí oferecer o perfume.

10Todo o povo estava de fora, à hora da oferenda do perfume.

11Apareceu-lhe então um anjo do Senhor, em pé, à direita do altar do perfume.*

12Vendo-o, Zaca­rias ficou perturbado, e o temor assaltou-o.

13Mas o anjo disse-lhe: “Não temas, Zaca­rias, porque foi ouvida a tua oração: Isabel, tua mulher, vai dar-te um filho, e tu o chamarás João.

14Ele será para ti motivo de gozo e alegria, e muitos se alegrarão com o seu nascimento;

15porque será grande diante do Senhor e não beberá vinho nem licor, e desde o ventre de sua mãe será cheio do Espírito Santo;

16ele converterá muitos dos filhos de Israel ao Senhor, seu Deus,

17e irá adiante de Deus com o espírito e poder de Elias para reconduzir os corações dos pais aos filhos e os rebeldes à sabedoria dos justos, para preparar ao Senhor um povo bem disposto”.

18Zacarias perguntou ao anjo: “Como terei certeza disso? Pois sou velho e minha mulher é de idade avançada”.

19O anjo respondeu-lhe: “Eu sou Gabriel, que assisto diante de Deus, e fui enviado para te falar e te trazer esta feliz nova.

20Eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas acontecerem, visto que não deste crédito às minhas palavras, que se hão de cumprir a seu tempo”.

21No entanto, o povo estava espe­rando Zacarias; e admirava-se de que ele se demorasse tanto tempo no santuário.

22Ao sair, não lhes podia falar, e compreenderam que tivera no santuário uma visão. Ele lhes explicava isto por acenos; e permaneceu mudo.

23Decorridos os dias do seu ministério, retirou-se para sua casa.

24Algum tempo depois Isabel, sua mulher, concebeu; e por cinco meses se ocultava, dizendo:

25“Eis a graça que o Senhor me fez, quando lançou os olhos sobre mim para tirar o meu opróbrio dentre os homens”.

26No sexto mês, o anjo Gabriel foi enviado por Deus a uma cidade da Galileia, chamada Nazaré,

27a uma virgem desposada com um homem que se chamava José, da casa de Davi e o nome da virgem era Maria.

28Entrando, o anjo disse-lhe: “Ave, cheia de graça, o Senhor é contigo”.

29Perturbou-se ela com essas palavras e pôs-se a pensar no que significaria seme­lhante saudação.

30O anjo disse-lhe: “Não temas, Maria, pois encontraste graça diante de Deus.

31Eis que conceberás e darás à luz um filho, e lhe porás o nome de Jesus.

32Ele será grande e será chamado Filho do Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará eternamente na casa de Jacó,*

33e o seu reino não terá fim”.

34Maria perguntou ao anjo: “Como se fará isso, pois não conheço homem?”

35Respondeu-lhe o anjo: “O Espírito Santo descerá sobre ti, e a força do Altíssimo te envolverá com a sua sombra. Por isso, o ente santo que nascer de ti será chamado Filho de Deus.

36Também Isabel, tua parenta, até ela concebeu um filho na sua velhice; e já está no sexto mês aquela que é tida por estéril,

37porque a Deus nenhuma coisa é impossível”.

38Então disse Maria: “Eis aqui a serva do Senhor. Faça-se em mim segundo a tua palavra”. E o anjo afastou-se dela.

39Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá.

40Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel.

41Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.

42E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.

43Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?

44Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.

45Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!”.

46E Maria disse: “Minha alma glorifica ao Senhor,*

47meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,

48porque olhou para sua pobre serva. Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada todas as gerações,

49porque realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo.

50Sua misericórdia se estende, de geração em geração, sobre os que o temem.

51Manifestou o poder do seu braço: desconcertou os corações dos soberbos.

52Derrubou do trono os poderosos e exaltou os humildes.

53Saciou de bens os indigentes e despediu de mãos vazias os ricos.

54Acolheu a Israel, seu servo, lembrado da sua misericórdia,

55conforme prometera a nossos pais, em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre”.

56Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa.

57Completando-se para Isabel o tempo de dar à luz, teve um filho.

58Os seus vizinhos e paren­tes souberam que o Senhor lhe manifestara a sua misericórdia, e congratulavam-se com ela.

59No oitavo dia, foram circuncidar o menino e o queriam chamar pelo nome de seu pai, Zacarias.

60Mas sua mãe interveio: “Não” – disse ela – “ele se chamará João.”

61Replicaram-lhe: “Não há ninguém na tua família que se chame por este nome”.

62E perguntavam por acenos ao seu pai como queria que se chamasse.

63Ele, pedindo uma tabuinha, escreveu nela as palavras: “João é o seu nome”. Todos ficaram pasmados.

64E logo se lhe abriu a boca e soltou-se sua língua e ele falou, bendizendo a Deus.

65O temor apoderou-se de todos os seus vizinhos; o fato divulgou-se por todas as montanhas da Judeia.

66Todos os que o ouviam conservavam-no no coração, dizendo: “Que será este menino?”. Porque a mão do Senhor estava com ele.

67Zacarias, seu pai, ficou cheio do Espírito Santo e profetizou, nestes termos:*

68“Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e resgatou o seu povo,

69e suscitou-nos um poderoso Salvador, na casa de Davi, seu servo

70(como havia anunciado, desde os primeiros tempos, mediante os seus santos profetas),

71para nos livrar dos nossos inimigos e das mãos de todos os que nos odeiam.

72Assim exerce a sua misericórdia com nossos pais, e se recorda de sua santa aliança,

73segundo o juramento que fez a nosso pai Abraão: de nos conceder que, sem temor,

74libertados de mãos inimigas, possamos servi-lo

75em santidade e justiça, em sua presença, todos os dias da nossa vida.

76E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, porque precederás o Senhor e lhe prepararás o caminho,

77para dar ao seu povo conhecer a salvação, pelo perdão dos pecados.

78Graças à ternura e misericórdia de nosso Deus, que nos vai trazer do alto a visita do Sol nascente,*

79que há de iluminar os que jazem nas trevas e na sombra da morte e dirigir os nossos passos no caminho da paz.”

80O menino foi crescendo e fortificava-se em espírito, e viveu nos desertos até o dia em que se apresentou diante de Israel.