Cardeal Geraldo Majella Agnelo está internado desde o final de dezembro na Santa Casa de Londrina. Quadro inspira cuidados, mas é considerado estável
O arcebispo emérito de São Salvador da Bahia, o Cardeal Geraldo Majella Agnello, de 89 anos, está hospitalizado, na Santa Casa de Londrina, desde o final de dezembro, em virtude de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Nos últimos dias, o religioso testou positivo para Covid-19. Seu quadro inspira cuidados, mas é considerado estável, informou Julia Bianconi, secretária de dom Geraldo.
Nestes dias, a Igreja do Brasil tem se unido em oração pela saúde do cardeal que mora em Londrina desde 2014. O prelado, depois de se aposentar em 2011, escolheu a cidade para estabelecer sua residência. Dom Geraldo foi o segundo arcebispo de Londrina, sucedendo dom Geraldo Fernandes Bijos, CMF, ficou à frente da arquidiocese entre 1983 e 1991, quando foi designado secretário da Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos, na Cúria Romana. No ano passado, celebrou 65 anos de sacerdócio em missa no Santuário Nossa Senhora Aparecida de Londrina.
Em entrevista à jornalista Renata de Paula, da Rádio Alvorada, o arcebispo dom Geremias Steinmetz pede que os fiéis continuem rezando por dom Geraldo. O arcebispo também destacou o papel da arquidiocese neste momento da vida do cardeal. “Nós, como Arquidiocese de Londrina, temos que continuar cumprindo com a nossa missão, a nossa função de rezar e de acompanhá-lo. Ele está hospitalizado aqui, está sendo bem tratado, há pessoas que o visitam quase que diariamente, eu também já o visitei, e vamos continuar rezando para que se faça a vontade de Deus. Neste momento a situação dele está estável, porém aos 89 anos, doente, hospitalizado e ainda nestes últimos dias apresentou um quadro de COVID. Portanto vamos continuar rezando para que Nossa Senhora da Saúde o cubra com suas bênçãos, e Deus continue fazendo e cumprindo a sua vontade com relação a ele”, pediu dom Geremias. Na entrevista, o arcebispo também comentou sobre alguns aspectos marcantes da trajetória do cardeal, principalmente em Londrina.
‘Estar onde as coisas acontecem’
Dentre as características de dom Geraldo, dom Geremias Steinmetz destaca a diplomacia. Para se ter uma ideia de sua personalidade, o atual arcebispo de Londrina relembra uma expressão que ouviu dele nas conversas em Roma quando o conheceu em 1995: “ele dizia que é muito bom estar onde as coisas acontecem!” Segundo dom Geremias, dom Geraldo falava da graça que é estar onde as grandes decisões são tomadas, onde as coisas, também culturalmente falando, acontecem.
Nesse aspecto, o arcebispo aponta que dom Geraldo trabalhou muito no contato com o mundo e com as nações. “Dom Geraldo foi sempre uma pessoa muito diplomática, portanto, ligado também à questão diplomática do Vaticano. Por isso mesmo o cardinalato trouxe uma amplidão pro ministério dele”, destaca. “Tendo sido nomeado membro de congregações em Roma para Liturgia, para Disciplina dos Sacramentos, mas também para os bens culturais da Igreja.”
Traçando um breve itinerário dos cargos que ocupou, em 1991, dom Geraldo foi nomeado pelo Papa João Paulo II como secretário da Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos. Em 1994, membro da Pontifícia Comissão para a América Latina. Em 1995, presidente da Comissão de Liturgia do Grande Jubileu do ano 2000 e membro do mesmo Comitê. Foi ainda membro do Pontifício Comitê dos Congressos Eucarísticos Internacionais. Em 1999, já como arcebispo de São Salvador da Bahia, foi nomeado vice-presidente do Conselho Latino-Americano – CELAM; e em 2000 membro do Pontifício Conselho de Migrantes e Itinerantes. Em 2001 foi criado Cardeal pelo Papa João Paulo II. Também em 2001 nomeado membro da Pontifícia Comissão dos Bens Culturais da Igreja. E em 2003, eleito presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).
Dom Geremias aponta também que, à frente da CNBB, entre 2003 e 2007, dom Geraldo Majella foi responsável por ações importantes, como a criação das Edições CNBB, editora de referência em língua portuguesa dos documentos, livros litúrgicos, subsídios e produtos da Santa Sé, do CELAM, da CNBB e de outras instâncias da Igreja no Brasil. “Hoje [Edições CNBB] é um organismo da CNBB que inclusive produz economicamente pro sustento da conferência”, explica.
Contribuições para Londrina
Como segundo arcebispo de Londrina, além de dar prosseguimento ao trabalho de dom Geraldo Fernandes, desbravador desta diocese, dom Geraldo Majella deixou contribuições importantes para a arquidiocese, que, segundo dom Geremias, percebe-se no trabalho hoje. “Primeiro a questão do dízimo, foi dom Geraldo que fez um trabalho amplo nessa área. Portanto se hoje nós temos uma igreja muito viva neste sentido, [com] a consciência da contribuição do povo de Deus para a manutenção das obras da Igreja, mostrando uma Igreja viva com o laicato, com os presbíteros, assim por diante, foi dom Geraldo que fez um trabalho em todas as paróquias, gerando essa consciência que continua presente até hoje.”
O arcebispo também destaca que foi ele quem começou a desenvolver na arquidiocese um clero “autóctone”, ou seja, oriundo daqui. “Até ali, com dom Geraldo Fernandes, tínhamos em grande parte um clero estrangeiro e um clero religioso. Dom Geraldo Majella começou a se preocupar em formar gente daqui, padres daqui, ordenou padres de fato nascidos em Londrina e nos municípios da Arquidiocese de Londrina. Esse é um detalhe importantíssimo, hoje nós temos um grande número de padres diocesanos.”
Outros pontos do episcopado de dom Geraldo no que diz respeito ao trabalho pastoral em Londrina foram os decanatos, a consolidação dos conselhos, levando em conta a participação do laicato nas pastorais específicas. “Alguns padres comentam que ele tinha um investimento grande nas pastorais específicas, de tal forma que tinha, por exemplo, leigos liberados para as pastorais, como para a juventude, pastorais sociais, catequese, então isso deu uma dinâmica muito grande no trabalho pastoral na arquidiocese.”
Homem de diálogo com a sociedade
“Foram coisas notáveis, importantíssimas que dom Geraldo fez na nossa arquidiocese, no Brasil como um todo, na Igreja do Brasil, e também a nível de diálogo com a sociedade”, continua dom Geremias, que destaca as diversas estruturas criadas por dom Geraldo no diálogo com a sociedade. “Ele dialogou diretamente com a sociedade na universidade, na Pastoral da Criança, no mundo, na Pontifícia Comissão para os bens culturais. Ele dialogou diretamente com a sociedade quando presidente da CNBB, então foi um homem de um diálogo muito intenso com a sociedade, graças a Deus.”
Pastoral da Criança
Em seu ministério em Londrina, dom Geraldo Majella também fundou a Pastoral da Criança, 1983, em parceria com a doutora Zilda Arns, na cidade de Florestópolis (PR), dando uma resposta eficaz para a questão da desnutrição infantil e da mortalidade infantil, que naquele local eras acima dos limites. “Foi um trabalho social de uma visão muito realista do nosso povo do Norte do Paraná que depois se estendeu para todo Paraná, para todo Brasil e para muitos países. Foi um dos trabalhos de dom Geraldo que transbordaram para outros países”, finaliza dom Geremias.
Juliana Mastelini Moyses
Pascom Arquidiocesana
Foto de destaque: Terumi Sakai – Missa pelos 65 anos de ordenação presbiteral de dom Geraldo
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