Nos dias 13 e 14 de setembro, a Arquidiocese de Londrina sediou a Assembleia Formativa da Pastoral Carcerária do Regional Sul 2 da CNBB, realizada na Chácara São José das Irmãs Claretianas. O encontro foi organizado pela coordenação estadual da pastoral.
O evento teve início com um momento de espiritualidade, em que velas foram acesas e a chama foi partilhada entre os participantes, simbolizando a missão de “espalhar luz na escuridão do cárcere”.
Durante a manhã, o coordenador estadual sob a liderança de Eduardo Fabrício de Andrade apresentou um panorama histórico das ações da pastoral, com dados sobre a realidade prisional atual: número de presos e presas, idade, perfil étnico-social, além da presença de crianças e idosos no cárcere. Um dos pontos mais destacados foi o aumento de mais de 500% no número de mulheres encarceradas nos últimos anos, segundo o DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional.
“Estamos dando atenção especial à questão da mulher presa, diante do crescimento alarmante dessa realidade e da dor de tantas mães, esposas e filhas que permanecem distantes de suas famílias”, afirmou Eduardo.
A Pastoral Carcerária do Paraná, em sintonia com a pastoral nacional, ligada à CNBB, reafirmou sua missão: anunciar a Boa Nova de Jesus Cristo às pessoas privadas de liberdade, num contexto de colapso do sistema penitenciário, que atinge sobretudo jovens, negros e pobres.
A assembleia reuniu cerca de 55 agentes e coordenadores de todo o Paraná e contou com a assessoria espiritual do frei Ildo Perondi, que refletiu sobre a missão pastoral à luz do Evangelho, dos documentos do Papa Francisco e de passagens bíblicas, fortalecendo os agentes nessa caminhada desafiadora de ouvir, acolher e apoiar irmãos e irmãs encarcerados.
O arcebispo dom Geremias Steinmetz também esteve presente, reforçando a importância de levar esperança aos encarcerados.
Nos dois dias, houve trocas de experiências entre as dioceses, destacando iniciativas como a celebração de Corpus Christi dentro da penitenciária; realização de celebração do Jubileu na Casa de Custódia; apoio de diretores para ações evangelizadoras; doações de materiais de higiene; implantação de cursos profissionalizantes para presos prestes a sair em liberdade; inclusão da Pastoral no Conselho da Comunidade.
Ao mesmo tempo, foram levantados desafios que ainda limitam o trabalho, como a falta de apoio das próprias comunidades religiosas, a escassez de agentes, dificuldade de visitas em dias fixados pelas unidades prisionais, além da necessidade de formação contínua e maior compromisso pastoral.
Na noite de sábado, os participantes tiveram um momento de descontração e convivência, com música, brincadeiras e bingo.
O domingo começou com a Santa Missa ao ar livre no jardim das Irmãs Claretianas, presidida pelo padre André Luís de Oliveira, assessor arquidiocesano da pastoral de Londrina. Em uma homilia marcada pela memória da Festa da Exaltação da Santa Cruz, padre André lembrou: “o Deus Crucificado fala-nos da fragilidade humana, da paz como único caminho, do amor pelos excluídos, etiquetados como indignos de serem amados, ou até como ‘coisas que falam’. Também recorda a força das mulheres que, desde o Calvário de Cristo, permanecem ao lado dos que sofrem”.
O encontro foi concluído com a definição de planos de ação até a próxima assembleia, marcada para 2026, em Ponta Grossa. Entre as metas estabelecidas pela Arquidiocese de Londrina, destacam-se: estabelecer parcerias jurídicas com universidades e entidades para apoio e revisão processual de presos sem assistência; ampliar a integração com outras pastorais sociais, para apoiar não apenas os encarcerados, mas também suas famílias; envolver cada vez mais a comunidade, buscando reduzir a reincidência e favorecer a reinserção social.
Foi elaborada uma carta que será enviada aos bispos do regional solicitando apoio e incentivo para a criação da Pastoral Carcerária onde não existe e reforçar as que já existem. Também foi feita a elaboração inicial de um projeto para a construção de uma casa de acolhida para os egressos, que não têm para onde voltar no encerramento de suas penas.
Assim, a assembleia reforçou a missão da Pastoral Carcerária: ser presença de Cristo nos cárceres, levando fé, dignidade, acolhida e esperança a quem mais necessita.
Valéria Recio
Psicóloga da Pastoral Carcerária da Arquidiocese de Londrina
Fotos: Angela Silva









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